Dia Internacional da visibilidade Trans!

Pautar visibilidade para grupos minorizados é perspectiva complexa, ao passo em que fazer eco às multiplicidade de vidas e as demandas é importante, visibilidade é um dispositivos que necessariamente se acopla com a elaboração pragmática de políticas de proteção e acesso as mais diversas. Seguimos ano a ano figurando como pais em que o índice de violência direcionada às populações trans é crescente, ao mesmo tempo nos preocupa os modos como a guisa de espantalhos ideológicos, o ataque direto a direitos das pessoas trans vai sendo visivelmente manobra ideológica estratégica das forças conservadoras.

A Antra aponta que de janeiro para cá, tivemos no Brasil um projeto protocolado por dia em casas legislativas espalhadas pelo país, cujo único objetivo é cercear direitos de pessoas trans. Seja nas garantias de acessos a educação, nos direitos de nome social, no acesso a esporte e lazer ou no cerceamento do acesso à saúde. Inevitável perceber que os sentidos ao redor de reinvindicações de pessoas trans vão sendo trincheira em disputa.


Contudo, muito já caminhamos nos últimos dez anos. Começamos a ver uma nova geração que vai desde seus inícios de transição de gênero, sendo incutida com o sopro de que o mundo é já um pouco mais possível do que era faz pouco. Uma geração que vai aprendendo a se imaginar como estudante, como psicóloga, como pesquisadora, como professora. Isso que para uma grande gama de pessoas que dão carne a branquitude cisgênera parece ser rota comum, para pessoas trans segue sendo um campo de imaginação inédito que só agora as novas gerações começam a entender como possível.

Talvez aí tenha uma dimensão produtiva da visibilidade – produzir imagens de possíveis. Mas apesar de fundamentais, imagens não bastam, elas só ganham forma como impulsionadores de estratégias pragmáticas produtoras de políticas coletivas e institucionais. Assim quem sabe, caminharemos finalmente para a construção de um país em que ser pessoa trans não seja mais elemento produtor de risco.

Por Céu Silva Cavalcanti:
Doutoranda em psicologia pela UFRJ; Presidenta do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro; Integrante da diretoria nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO); Integrante do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos da Trans-homocultura (ABETH) e da Articulação Nacional de Psicólogues trans (ANP Trans). CRP 05/57816