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O ‘X’ da questão, na frágil senão irresponsável política dita de “distanciamento seletivo”, é que o fato de o sistema de saúde não estar em colapso em alguns municípios (ou, não ter atingido os 50%, que seja), e não ter registros confirmados elevados, isso não significa ser possível abrandar o distanciamento. De forma nenhuma! Pois, além do sistema poder ser demandado, de forma intensa, muito rapidamente, de dia para outro, os registros confirmados dependem de testes não realizados. Um sistema dito “vertical” e brando, além de não ser o mais eficaz, mas ao contrário, o mais arriscado e não científica e empiricamente comprovado, teria que estar respaldado por testes negativos. A medida, se adotada nas nossas condições, deverá gerar perda do controle ascendente da curva, e mesmo onde possa “girar a economia”, sem efeitos imediatos ou aparentes prejudiciais, poderá gerar um refluxo ainda mais potente da contaminação, mais adiante, onde não tenha sido até então tão intensa. E daí, serão exigidas medidas ainda muito mais rígidas, que poderão, aí sim, criar sérios entraves e impedimentos concretos às atividades econômicas inevitáveis à nossa sobrevivência (relativas à transporte e alimentação). Dessa forma, o que precisamos são atendimentos ou cuidados específicos para trabalhadores de atividades essenciais, para idosos e co-morbidades, sobretudo de baixa renda, e ainda, trabalhadores em reclusão, mas com condições de moradia e renda inadequadas e precárias. Conciliar política horizontal ampla e firme, com políticas específicas, é preciso. Não podemos aceitar uma política de distanciamento ameno, ou, uma política vertical acientífica, disfarçada pelo eufemismo apelativo de “distanciamento social seletivo”. Precisamos, isto sim, uma política universal de distanciamento social, complementada por uma política assistencial intensivo-seletiva, para trabalhadores em atividades inexoráveis, assim como para trabalhadores informais e precários, idosos e todos com co-morbidades e reclusos de forma precária ou em desacordo com medidas de higiene e proteção amplamente divulgadas. Os trabalhadores não devem ser os objetos manipulados pelo temor de falta de renda e condições de sobrevivência, mas, outrossim os prioritariamente assistidos.
Eduardo Pinto e Silva – Prof. da UFSCar e integrante do Núcleo Nordeste Paulista e do Regional São Paulo da ABRAPSO