MOBILIZAÇÃO ABRAPSO: Carta do XIII Encontro de Psicologia Social Comunitária

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CARTA DO ENCONTRO DE PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA
PARA UM CONSTANTE DEBATE SOBRE A REALIDADE BRASILEIRA E A FORMAÇÃO CRÍTICA DO PSICÓLOGO

O XIII Encontro de Psicologia Social e Comunitária do núcleo de Bauru, reunido entre profissionais, estudantes e docentes nos dias 15 a 17 de setembro de 2016, na UNESP de Bauru, preocupou-se em discutir a formação e a atuação da psicóloga nas políticas públicas inseridas na realidade brasileira.

Partimos de uma análise de conjuntura que caracteriza o contexto do neoliberalismo como ameaçador das políticas públicas e dos direitos sociais conquistados historicamente pela classe trabalhadora. Trata-se de um cenário político que exige intensificar o enfrentamento às pautas privatistas e conservadoras. Acreditamos que este enfrentamento, fundamental para fortalecer uma psicologia social crítica, indica pelo duas direções: superar o modelo capitalista e o modelo hegemônico de psicologia.

Estes horizontes são complementares e colocam alguns desafios para pensar uma teoria e uma prática capazes de responder às demandas atuais da sociedade brasileira e da maioria da população deste país. Entendemos, assim, que estes desafios postos para a ciência e para a profissão vão além do próprio corpo teórico e técnico da psicologia, já que é necessário dialogar com os movimentos sociais e com outras áreas do conhecimento para fazer desta profissão um instrumento de mudança social.

Feitas estas considerações, queremos, com esta carta, trazer um debate importante, que deve perpassar a formação da psicóloga na realidade em que vivemos. Assim entendemos que é necessário realizar análise crítica (constante) da lógica da psicologia hegemônica e de como ela se associa às lógicas de privatizações e gerenciamento empresarial das políticas sociais, que privilegiam uma atuação clínica tradicional, que culpabiliza e patologiza o sujeito. Este cenário tem colocado, ainda, a psicóloga como operacionalizadora de demandas imediatas, que correspondem às lacunas da própria precarização dos serviços públicos e dos direitos sociais.

O acúmulo das críticas resultantes das ações e formulações teóricas dos diferentes ramos da psicologia crítica (incluindo o importante papel da psicologia social latino-americana no fortalecimento de uma psicologia contra-hegemônica), pode contribuir para construção de diferentes práticas que se colocam como fundamentais para enfrentar a conjuntura atual: articulação da rede intersetorial, construção de fóruns populares e comunitários para debater as demandas e necessidades da população, fortalecer os espaços coletivos da comunidade, fomentar uma rede de apoio psicossocial, entre outras.

Olhar para as políticas públicas como direitos conquistados, que devem ser constantemente pensados e garantidos como tais, é necessário para que se assegure condições mínimas a uma formação que se pretende crítica. Isto implica em combater o produtivismo e o tecnicismo da formação, alheios às questões essenciais que tangem as políticas sociais da realidade brasileira, e enfrentar a precarização das condições de trabalho dos serviços públicos e terceirizados.

Faz-se, portanto, necessário uma reflexão crítica sobre o próprio fazer psicológico e que também olhe para as necessidades da própria categoria, compreendendo esta questão no bojo da luta social e da formação política das trabalhadoras.

Que estas reflexões – que temos certeza, já fazem parte da formação da psicóloga – sejam intensificadas nos cursos e nas universidades. O núcleo da ABRAPSO Bauru coloca-se à disposição para fortalecer debates e processos de elaboração crítica do fazer psicológico na nossa realidade.

Bauru, 17 de setembro de 2017.

Disponível também em: https://www.facebook.com/abrapsobauru/posts/916179281845465