ABRAPSO apoia Nota do GT da ANPEPP em defesa da Profa. Valeska Zanello (UnB)

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A ABRAPSO apoia Nota do GT Psicologia e Estudos de Gênero da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia – ANPEPP em defesa da Profa. Valeska Zanello (UnB)

 

NOTA DE APOIO À PESQUISADORA VALESKA ZANELLO

Em 17 de abril de 2017, uma de nossas colegas, integrante do Grupo de Trabalho Psicologia e Estudos de Gênero da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP), a professora Dra Valeska Zanello, do Departamento de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), foi impedida de proferir palestra na Faculdade Católica Don Orione, no Tocantins, pois a direção assim a proibiu. Trata-se de uma instituição católica que entendeu que a professora, a qual havia sido convidada para lá palestrar, pregava valores contrários à religião católica, dentre os quais, a defesa do direito das mulheres em realizar o aborto – prática parcialmente permitida, inclusive, em nosso país.

Não cabe aqui avaliar o direito ou não daquela faculdade em cancelar o evento. Porém, é importante chamar a atenção da população para o fato de que proibir a palestra de uma cientista dentro de um espaço acadêmico é algo de extremo fascismo. Esta afirmação procede, pois é importante lembrar que cientistas não “pregam valores”, mas comunicam, discutem , compartilham pensamentos, fatos e evidências e reagem a eles com pesquisas e elaborações de teses que tampouco podem ser neutras. Portanto, cientistas não são clérigos e, por isso, não devem ser regidos pelos cânones religiosos. Foi-se o tempo no qual a relação entre financiamento da transmissão e produção de conhecimento era sinônimo de direcionamento ou cerceamento de pesquisas e pensamentos. Portanto, uma congregação religiosa não deve dirigir ideologicamente uma universidade como quem dirige uma Igreja. A universidade é um lugar exclusivo para a formação de profissionais aptos ao debate de teses, pesquisas, assistência à população visando cidadania, autonomia e equidade em acordo com os princípios acadêmicos e constitucionais do país que a abriga e em consonância com políticas internacionais pactuadas entre países. Neste sentido, é inadmissível que uma pesquisadora seja impedida de comunicar suas teses em virtude de as mesmas estarem em desacordo com os valores morais pregados por esta ou aquela crença religiosa, cuja pluralidade também deve ser garantida. Lembramos à população que as instituições privadas e confessionais (religiosas) de ensino superior estão submetidas às avaliações dos Programas de Pós-Graduação promovidas pela CAPES, as quais são financiadas com verba pública e, como todas as instituições municipais, estatais e federais que delas participam, devem se ancorar em concepções teóricas e metodológicas na realização de suas pesquisas e produção de teses evitando guiar-se por fé ou convicções religiosas.

Neste sentido, nós, pesquisadoras e pesquisadores deste GT, com reconhecida trajetória na área – bem como a pesquisadora Valeska Zanello – repudiamos veementemente a atitude tomada pela direção desta faculdade, bem como o apoio a ela dado pela Diocese da região. Acreditamos que se esta faculdade se pretende séria e capaz de formar profissionais que servirão à população brasileira, a mesma deve estar aberta ao debate acadêmico o qual, por princípio, não pode se pautar por valores religiosos.

GT Psicologia e Estudos de Gênero da ANPEPP