Comum a todos os grandes narradores é a facilidade com que se movem para cima e para baixo nos degraus de sua experiência, como numa escada. Uma escada que chega até o centro da terra e que se perde nas nuvens é a imagem de uma experiência coletiva, para a qual mesmo o mais profundo choque da experiência individual, a morte, não representa nem um escândalo nem um impedimento.
Walter Benjamim
Na história de construção da ABRAPSO houve diversos narradores e narradoras, que com a paciência histórica a construíram, narrando com maestria suas experiências de luta, de derrotas e vitórias. Um processo formativo que deixou legados, os quais precisam ser enraizados na memória como experiência coletiva de uma luta que não se finda, mas se renova pelo reconhecimento das experiências individuais que fizeram parte desse caminho histórico.
A experiência individual de Omar Ardans enquanto companheiro de luta nas batalhas pela democracia e emancipação social nos é reafirmada por essa outra, a passagem para uma dimensão nova de vida. Seja como amigo, como mestre, como companheiro de luta, de amores e dores; seja como pensador, como psicólogo social, filósofo e teórico que foi sua memória é cara para os que o conheceram e para os que virão a conhece-lo através das narrativas de suas contribuições na formação de pessoas e profissionais que hoje lutam novas lutas e fazem vivas as partilhas de conhecimento e parceria que ele nos deixou em forma de arte, política, magia e amor. Sua morte não nos representa um escândalo ou um impedimento, mas antes, uma experiência de vida intensa e de coragem.
Sigamos na luta por uma ABRAPSO marcada por essas mãos e saibamos que nessa construção de caminhos, quem com ele conviveu aprendeu que a narrativa mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso. (1) A ABRAPSO que com ele se fez, sempre terá sua marca.
(1) Benjamim, Walter. Obras escolhidas Magia e técnica, arte e política, 7 a . Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Autor em quem ele muito se pautou para lidar com as vicissitudes da vida).