A ABRAPSO divulga nota de repúdio da Regional SP e do Núcleo Baixada Santista à ação da Polícia Militar de São Paulo contra a comunidade do Morro do Itararé em São Vicente
Acesse aqui a nota divulgada ou acompanhe abaixo o texto na íntegra:
NOTA DE REPUDIO À AÇÃO DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO – DO BATALHÃO DE AÇÕES ESPECIAIS DA POLÍCIA, BAEP – CONTRA A COMUNIDADE DO MORRO DO ITARARÉ EM SÃO VICENTE/SP
Através deste expressamos nosso repúdio à ação da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Batalhão de Ações Especiais da Polícia BAEP – contra a comunidade da ocupação do Morro do Itararé, São Vicente/SP. Vale dizer que, no dia 09 de dezembro, uma liminar suspendeu a ordem de retirada das famílias do local. No entanto, isso não diminuiu a intimidação e a violência que a comunidade vem sofrendo pelos agentes do Estado.
No último dia 15 de dezembro, a Polícia Militar se deslocou para o Morro do Itararé. Durante sua ação, os policiais militares foram até a ocupação onde residem 27 famílias (87 pessoas: 10 adolescentes, 25 crianças (3 recém nascidos), 3 idosos, 1 criança com sofrimento psíquico grave, 8 pessoas com outro problemas graves de saúde e uma pessoa com deficiência), e, com armas nas mãos e um arsenal de intimidação, arrombaram várias portas para invadir as residências.
Os policiais, seguindo o mesmo modo de operação denunciado anteriormente, agiram com violência e intimidação, reviraram as casas e não apresentaram nenhuma ordem judicial que autorizasse a ação. Em uma das casas os policiais agrediram e deram voz de prisão a uma moradora que com seu telefone gravava a operação. Indagados sobre o possível crime que cometiam, os policiais militares, no interior da residência, continuaram a agredir a moradora enquanto mantinham seu pai fora da casa.
Quando foram perguntados sobre a razão de tais atitudes, segundo os moradores, os policiais responderam que ali era uma invasão e que fariam o que quisessem. Não quero saber de defensoria nem nada… a gente vai voltar, a gente mata mesmo…. É importante lembrar que os policiais militares não usavam suas identificações na farda.
Ainda que os policiais militares fossem até a ocupação como parte de uma operação, vemos claramente, conforme o relato dos moradores, a violação despreocupada de direitos, a certeza de impunidade e a violência típica dos agentes do Estado contra a população mais vulnerável, justificada pelo fato de, na perspectiva destes agentes, se tratar de uma invasão. O fato de se tratar de uma área de ocupação não justifica ou autoriza que os policiais militares possam agir de forma violenta e desproporcional contra os moradores. Durante a ação não foi encontrado nada que caracterizasse algum tipo de infração e mesmo assim, os policiais, em tom de ameaça, prometeram retornar.
É inadmissível que a sociedade e o comando da Polícia Militar continuem a tolerar esse tipo de ação que nos faz lembrar de um momento em que as vozes eram silenciadas em porões úmidos e sangrentos.
Falamos de vidas que são ameaçadas e que, na luta pelo direito à moradia, seguem na busca de um futuro melhor.
São Vicente, 18 de dezembro de 2017.
Associação Brasileira de Psicologia Social Abrapso
Regional São Paulo
Núcleo Baixada Santista
Links para saber mais sobre a situação:
http://ontonrtv.blogspot.com.br/2017/12/justica-ira-despejar-familias-que-vivem.html
http://ontonrtv.blogspot.com.br/2017/12/ocupacao-do-morro-do-itarare-recebeu.html
https://www.facebook.com/fotografiaailtonmartins/videos/1586681088053170/